sexta-feira, 24 de junho de 2011

Incesto - um direito paterno

>fuçando achei um arquivo em pdf de horrorizar que está postado no final desse arquivo



é sobre os direitos da infância e adolescência
e estudos feitos principalmente no Rio Grande do Sul
onde foi constatado os abusos sexuais contras as crianças
são sempre feitos dentro de casa e na maior parte das vezes pelo pai

são vários relatos de fatos verídicos de deixar qualquer um tonto


pg.10
Violência doméstica

Um dos maiores obstáculos ao direito à convivência familiar está dentro da própria família: é a violência que acontece dentro de casa, alheia às estatísticas e, quase sempre, oculta na cultura da intimidade inviolável da vida privada que impera em nossa sociedade e que é responsável, em grande parte, por verdadeiras tragédias cotidianas que vão dos maus tratos ao abuso sexual e até à morte.


Menino foge das surras do pai

Em 10 de março de 1997, a CCDH recebeu denúncia de que o menino M.R.P., de 10 anos, que fugiu da casa de seu pai por ser vítima de maus-tratos, estava desaparecido há aproximadamente 90 dias. Sua irmã, D.R.P., de 13 anos, continuava na casa de seu pai, em Portão (RS), subnutrida e maltratada, obrigada a trabalhar sob pena de ser surrada.
...

Violência Sexual

Nos dias 9, 10 e 11 de novembro de 1997, o jornal Zero Hora publicou uma série de reportagens sobre, que despertaram a necessidade de discussão do problema e a criação de propostas de combate à violência contra as crianças e os adolescentes, que reproduzimos a seguir, na íntegra.


“A face obscura da família gaúcha"
09/11/97 Eliane Brum
Com esta matéria, o jornal Zero Hora vai revelar aos seus leitores a anatomia de um crime. Entre as quatro paredes do lar, no seio da família, crianças e adolescentes têm sido profanadas. É o o maior e mais antigo tabu. Um mal que só pode ser barrado se for descoberto, denunciado e tratado.

Para seguir a rota da infância traída, uma equipe de ZH percorreu 7,5 mil quilômetros durante um mês pelo Rio Grande do Sul. O resultado desta viagem pela degradação humana começa a ser apresentado hoje.



Os nomes das vítimas foram omitidos para impedir sua identificação.
Um holocausto silencioso está destruindo crianças e adolescentes no Rio Grande do Sul.
Incesto é o seu nome. O tabu antigo, semeador de tragédias em todos os cantos do mundo, chega ao final do milênio impronunciável e devastador como sempre. O rastro deste crime familiar é traçado no Estado pelos registros das delegacias de polícia, pelas ocorrências acumuladas nos conselhos tutelares.

Em cada município gaúcho, entre fábricas ou lavouras, no interior de favelas ou nos condomínios de luxo, crianças têm seu corpo violado justamente por quem deveria protegê-las. É a face obscura da família gaúcha.

O tamanho deste drama foi investigado pelo médico-geneticista Renato Zamora Flores, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em sua tese de doutorado defendida em setembro.

Depois de analisar mais de 5 mil ocorrências de
incesto nos últimos 10 anos, Flores chegou a uma conclusão estarrecedora: uma em cada cinco gaúchas é sexualmente abusada por familiares antes de completar 18 anos. Uma estatística semelhante à dos países da Europa e da América do Norte, que estimam em 20% a fatia da população feminina vitimada pela violência sexual. Se Flores estiver certo, significa que 1 milhão de gaúchas foram - ou ainda serão - violadas por seus parentes.

‘O estupro cometido por estranhos é quase uma lenda no Rio Grande do Sul’, afirma a comissária Geromita Barrada, da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, depois de quase 30 anos ouvindo o drama de meninas estupradas por familiares. ‘O perigo mora em casa.’ Tão perto que 85% dos abusos sexuais levados aos conselhos tutelares do Estado são cometidos por parentes.




‘O estupro cometido por estranhos é quase uma lenda no Rio Grande do Sul’, afirma a comissária Geromita Barrada, da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, depois de quase 30 anos ouvindo o drama de meninas estupradas por familiares. ‘O perigo mora em casa.’ Tão perto que 85% dos abusos sexuais levados aos conselhos tutelares do Estado são cometidos por parentes. Sob a denominação moderna de abuso sexual - uma expressão que tanto pode significar sedução por estranhos como por parentes, tanto expor a criança a cenas de sexo na TV como violentá-la - o incesto aparece mascarado nas estatísticas. Mas é a família a grande ameaça à infância.

incesto é uma engrenagem alimentada por inocentes, que se repete de geração em geração. Só pode ser barrado se for descoberto, denunciado e tratado. Os casos mostram que a maioria das vítimas cresce e se transforma em algoz. E seus filhos violados crescerão e provavelmente violarão seus rebentos. É rigorosamente isso que tem acontecido no Rio Grande do Sul - e no resto do mundo - por séculos, no mais absoluto segredo.

Na fronteira do Brasil com a Argentina, no município de Uruguaiana, os homens que seduzem suas filhas ganharam um nome ainda no tempo das escaramuças com os espanhóis: ‘cruzeira’. O nome foi tomado emprestado de uma das serpentes mais peçonhentas do sul do continente. Reza a lenda que o réptil mal espera os filhotes abrir os olhos para a imensidão da campanha e devora-os. O mito é recusado pela ciência, mas se espalhou como rastilho de pólvora pela região do Prata.


Passaram-se 300 anos, mas pouco mudou. À beira das águas barrentas do rio Uruguai, mãe e filha se abraçam unidas pelo sangue e por uma história brutal. E., a mãe, foi violentada aos nove anos pelo próprio pai. Na cidade todos sabiam que o bolicheiro criava as filhas para o próprio leito, mas silenciavam ancorados por ditados da idade do mundo: ‘O lar de um homem é seu castelo’ ou - ainda mais explícito - ‘Quem come do meu pirão, prova do meu cinturão’. ‘Quando eu tinha 12 anos senti uma coisa se mexendo na minha barriga e achei que era lombriga’, conta E., hoje com 37 anos. ‘Era um bebê do meu pai.’

Mais tarde E. casou com um xangueiro (biscateiro num lado e outro da fronteira). Ele também era um ‘cruzeira’. Quando a filha primogênita tinha nove anos, foi violentada pelo próprio pai e engravidou, seguindo o destino da mãe. Pesquisas mostram que como E., grande parte das mulheres violadas por familiares acaba casando com homens que mais tarde repetem a história de sedução com as próprias filhas.

Somente de 5% a 10% destes cordeiros imolados no seio da própria família, conforme o trabalho de Flores, conseguem denunciar a violência. É assim que na penumbra de lares perigosos, parte da infância gaúcha tem sucumbido no mais criminoso silêncio.

...

Eu tinha cinco anos quando passei uma noite na casa do meu tio. Ele me colocou na cama dele, tirou a minha roupa, passou a mão em mim. Eu não consegui gritar. E a partir dali sempre fiquei paralisada perto dele. Aos nove, meu tio me levou até uma cachoeira na fazenda do meu avô. E lá de novo abusou de mim, falou que incorporava e era uma entidade que estava ali. Aos 17, estávamos todos numa festa de família, no lado de fora da casa. Eu voltei para ir ao banheiro. Meu tio me esperava na saída. Me pegou a força. Me lembro da dor e do perfume que ele usava: Tabu. Quando soube que estava grávida, tentei me matar. Nunca contei de quem era, me chamaram de vagabunda. E nunca mais consegui me aproximar de homem nenhum...



A gestação da serpente

Preparando o almoço, a mãe viu a cena pelo espelho: a filha de quatro anos colocando o preservativo em F. (foto), o irmão de 16. Depois, choramingando porque queria ver o programa da Angélica, masturbou o garoto. Era 15 de maio. Desde então, F. é ‘o monstro’ para a família de Rio Grande.

Esquecem que por trás dos olhos de serpente há um adolescente assustado e uma longa gestação.

Desde os dois anos, ele era submetido a violações pelo próprio pai, um homem que dava balas para garotinhas masturbá-lo e tentou violentar uma prima de 10 anos. ‘Está doendo muito, mãe, o pai me machucou’, gritou o menino no banheiro um dia.

Quando o pai partiu, ele foi despachado para a casa da bisavó materna. ‘Tu és igual ao ladrão do teu pai. E tua mãe te odeia’, repetia diariamente a mulher.

Incapaz de se relacionar com outras crianças, F. dedicou sua meninice a afogar gatos, arrebentar pássaros e, quando cresceu o suficiente, espancar também a bisavó. Só voltou a ver o pai aos 15 anos, quando abusou da meia-irmã de três anos.

Foi despachado para a casa da mãe, onde viveu isolado, sempre desconfiado de que riam dele, furtando pequenos objetos. E violando a irmãzinha com cabelos de anjo. ‘Ele é um monstro’, diz a mãe. ‘Todo mundo ficaria melhor se ele estivesse morto’, assegura o padrasto. Aos 16 anos, sem um Frankenstein para culpar, F. é um monstro solitário.



A anatomia do abusador

O abusador sexual não tem cara. Ele pode ser qualquer um. Depois de quase uma década ouvindo homens que violaram filhas, sobrinhas, irmãs e netas, o coordenador do Ambulatório de Maus-Tratos de Caxias do Sul (AMT), o psicólogo e professor da Unisinos Renato Caminha, traçou um perfil assustador porque comum demais: geralmente o abusador tem padrões morais e religiosos rígidos, uma vida regrada fora de casa, comportamento agressivo com a família e perturbações sexuais - como não conseguir fazer sexo com sua esposa ou mesmo com qualquer pessoa adulta. O álcool aparece como um companheiro fiel do
incesto: não determina, mas facilita.

‘O agressor sexual geralmente é um bom cidadão, um bom sujeito’, afirma Caminha. ‘Por isso, às vezes é tão difícil acreditar que ele foi capaz de cometer o abuso sexual.’ Um caso emblemático foi atendido em Porto Alegre pelo geneticista Renato Flores: aos 16 anos, a filha mais velha de um respeitado líder comunitário da Capital apareceu grávida, afirmando que a criança havia sido gerada pelo pai. Jurando inocência, o acusado recebeu solidariedade de amigos, da associação comunitária que dirigia e até de políticos municipais. Mas o exame de paternidade acabou provando que a filha tinha razão. Enquanto aguardava julgamento na cadeia, o pai morreu de enfarte.

A maioria dos abusadores, mais de 95% segundo as pesquisas, são homens. O comportamento mais violento do homem - historicamente detentor do poder e da força dentro da família - é uma das principais hipóteses para explicar a predominância masculina. Mulheres abusadoras são uma raridade. Entre as quatro paredes do lar, os grandes sedutores do
incesto são pais e padrastos.

Uma pesquisa realizada em São Paulo, em 1988, revelou que 68,6% dos agressores são pais biológicos e 29,8% padrastos - justamente as duas figuras que estão no lugar de maior poder na estrutura familiar. Quase 50% têm entre 30 e 39 anos e mais da metade é casado.


Meninas ... não estão sozinhas na devassidão dos parentes. Apesar de preferidas no desejo doentio de familiares, pesquisas mostram que o número de meninos violados pode chegar a um terço dos casos.

São garotos como J., morador da zona sul de Porto Alegre. Ele é filho de um homem que é seu pai e também seu avô. Sua mãe foi estuprada pelo próprio pai aos 16 anos, e o gerou. Aos oito anos e cinco meses, J. foi violentado pelo pai-avô. Ele tem hoje 10 anos.

‘Além de todo o trauma, os meninos ainda sofrem com um outro estigma, o do homossexualismo’, analisa o psicólogo Christian Kristensen, que fez seu mestrado na UFRGS sobre abuso sexual de meninos.

‘Precisam lidar, além da violação, com a suposta perda da masculinidade associada à violência a que foram submetidos.’

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa provam que crianças abusadas são 10 vezes mais suscetíveis a retardo mental. Mais da metade das mulheres internadas por problemas psíquicos foi agredida sexualmente no passado.

É o
incesto que está por trás da maioria das prostitutas e michês infantis. ‘Pelo menos na rua eu escolho quem vai ficar comigo’, desabafou uma prostituta de 12 anos no centro de Uruguaiana. ‘Em casa, tenho de agüentar o nojento do meu pai.’

Vítimas de
incesto apresentam o que os especialistas chamam de transtorno de estresse pós-traumático: o impacto do abuso sexual é tão terrível que, como forma de se defender, as crianças rompem com a realidade e adotam um comportamento psicótico. ‘Ser vítima de incesto causa um impacto psicológico apenas igualado ao de ter sido preso em campo de concentração ou sobreviver a uma queda de avião’, afirma o geneticista e professor da UFRGS Renato Zamora Flores. ‘Não é necessário que haja uma relação sexual completa, o que está em jogo é a quebra de confiança entre alguém mais frágil e aquele que se aproveita de uma posição de poder para obter recursos sexuais.’



Prostituta adolescente

J. tem 15 anos. Foi estuprada pelo pai aos oito. E culpada pela mãe até hoje. Nem a menina nem a mãe jamais tiveram tratamento. A garota já entrou em coma numa tentativa de suicídio e, desde o ano passado, se entrega por R$ 30 a um homem casado, de 60 anos, nos motéis do município de Ijuí, no noroeste do Estado.

‘Foi no dia 10 de janeiro de 1990 que o pai me pegou. Eu nunca esqueço porque sempre quero morrer neste dia. Antes disso ele já tinha tentado me violentar duas vezes. Fiquei três dias com dores e hemorragia.

Aí a mãe ficou com medo, me levou à polícia e ele pegou 20 anos de cadeia. Fiquei um mês no hospital. Sabe, eu queria casar, ter uma casa e uma família. Acabou tudo. Parei de estudar na 3ª série porque os colegas descobriram.

Cheguei a arrumar um namorado, mas quando ele soube me largou. Com 11 anos um cara me violentou no mato, dizendo que até o meu pai me pegava. Mas o pior é a minha mãe. Ela fica berrando que eu sou culpada pelo que aconteceu. Diz que fui eu que seduzi o meu pai. Eu digo para ela que posso ter corpo de mulher, mas ainda sou criança. Peço para a mãe me dar carinho, mas desde que o pai me estuprou ela não consegue tocar em mim. Conheci este velho e sobrevivo com o que ele me dá. Dá nojo, mas eu não tenho futuro mesmo. Para mim, só resta morrer.’



Ao contrário da crença geral, o incesto não aproxima os seres humanos dos animais - nem transforma o homem numa besta. A freqüência de relações incestuosas entre a maioria das espécies de aves e mamíferos, conforme pesquisas na área da biologia e da genética do comportamento, é de apenas 1% a 2%.

Entre os homens, não há uma medição deste tipo, mas os cientistas acreditam que pode chegar a 20%. Em algumas famílias de bichos, as fêmeas deixam de ovular quando só há parentes disponíveis para a procriação, movidas pelo instinto de que o sexo entre iguais enfraquece a espécie e reduz suas chances de sobrevivência.


‘O incesto é essencialmente humano’, 
afirma Flores. 
‘E isso é o que parece assustar as pessoas.’

para baixar o PDF na íntegra

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