sexta-feira, 25 de março de 2011

Degustação de Vinhos e o Matuto

- Hummm... - Hummm... - Eca!!! - Eca?! 

Quem falou Eca? 
- Fui eu, sô! 
O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho? 

- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas... 
- Putaquepariu sô! 
E o senhor cheirou isso tudo aí no copo ?! 

- Claro! Sou um enólogo laureado. 
E o senhor? 
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor !!
Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!

- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild! 

- O senhor me descurpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é ? 
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? 
Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. 
O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então... 
- E intão moiá o biscoito, né? 
Tô fora, seu frutinha adamascada! 
 
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no... 
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim! 

- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. 
Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens... 
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta... 

- O senhor poderia começar com um Beaujolais! 
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana! 

- Então, que tal um mais encorpado? 
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo... 

- Ou, então, um suave fresco! 
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada! 

- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar! 
 - Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs!
Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta.
Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta... 

- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?

- Pra que esse nervosismo todo? 
Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei? 
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! 

Engulidô de rôia! 
- Mole e redondo, com bouquet forte?

- Agora, ocê pulô o corguim! 

E é um... e é dois... e é treis!

Num corre, não, fiodaputa! 

Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!... 


Luiz Fernando Veríssimo

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